domingo, 31 de janeiro de 2010

MUDRAS

Nas práticas espirituais orientais, há certos gestos com as mãos, chamados mudras, que são largamente utilizados. Mas o que são os mudras?

Há vários conceitos para explicar o mudra, para se aproximar do que vem a ser a sua essência. O mudra ou gesto, é um posicionamento das mãos e dedos, as vezes aparece descrito também como gesto magnético, reflexológico ou simbólico feitos com as mãos.
Segundo o Dr. Dharma Singh Khalsa. "A partir do estudo ocidental de anatomia, sabemos que as mãos e seus dedos são altamente representados no córtex cerebral; isto é, há uma relativa abundância da área no córtex que esta designada para o controle das mãos e dos dedos. Também sabemos que certos movimentos das mãos e dos dedos. Também sabemos que certos movimentos das mãos dos dedos parecem ajudar o cérebro a padronizar a coordenação física. Assim posicionar as mãos e seus dedos aparentemente tem um efeito sobre a função cognitiva. Do ponto de vista oriental, as mãos e os dedos têm um significado mais profundo. Segundo os mestres de Yoga, cada área da mão reflete ou ajuda a controlar uma área especifica do cérebro apenas esticando os dedos, cruzando-os ou tocando a ponta deles no polegar ou em outra parte da mão".
Os mudras influenciam diretamente sobre o fluxo da energia nos canais energéticos (meridianos, nadís), na mente, no campo eletromagnético, no nível mental e emocional, no corpo físico por meio do sistema endócrino e do sistema nervoso simpático e parassimpático. Produzindo efeitos fisiológicos e psíquicos. Uma técnica aparentemente simples como um mudra pode desencadear estados de consciência avançados já nos primeiros minutos de prática. Mudras, mantras, asanas e pranayamas são largamente utilizados em Kundalini Yoga para maximizar os resultados e benefícios da prática de Yoga. Para ter um acesso rápido aos vários mudras e meditações praticadas no Kundalini Yoga basta ler o livro de Sabrina Mesko: Mudras que Curam - Yoga para suas mãos. São Paulo, Pensamento, 2003. Todo o conteúdo deste livro foi extraído dos ensinamentos e práticas de Yogue Bhajam.
O termo mudra deriva das raízes sânscritas mud (encanto, magia, satisfação) e rati (dar, doar). Literalmente pode traduzir-se como aquilo que outorga encanto, força ou poder. Em algumas obras aparece incorretamente traduzido como símbolo, porém, embora alguns mudras sejam simbólicos, existe outro termo (yantra) para designar os símbolos em si. (...) Possui três significações bem diferentes: por um lado designa os gestos feitos com as mãos; por outro, em alguns textos (principalmente de Hatha Yoga, modalidade de Yoga tântrico, surgida no século XI d.C.) designa outras técnicas fisiológicas, como ásanas (posições físicas) ou bandhas (contrações de plexos e órgãos); e ainda, no contexto do tantrismo, mudrá designa a Shaktí (...). Nos textos tântricos, que expõem um Yoga muito antigo, os mudras estão diretamente ligados aos rituais. Associados à entoação de sons e à visualização mental, simbolizando o corpo (mudra), a palavra (mantra) e o espírito (visualização), acontece a invocação da divindade que se deseja estar em comunhão. (Pedro Kupfer, Mudrá: Gestos de Poder. Florianópolis, Fundação Dharma, 2001).

Encontramos descrições e explicações detalhadas sobre os mudras em várias escrituras como o Gheranda Samhita, Shiva Samhita, Kularnava Tantra, Hatha Yoga Pradipika, Natya Shastra e em muitos outros textos.

Por exemplo, no Shiva Samhita e no Hatha Yoga Pradipika encontramos explicações sobre os mesmos dez mudras. São eles: mahamudra, mahabandha, mahavedha, khechari, uddiyana bandha, mula bandha, jalándhara bandha, viparita karani, vajroli mudra e shakti chalana. No Hatha Yoga Pradipika diz-se que "eles destroem a velhice" (III, 5-7). Assim, deve-se praticar com empenho os diversos mudras a fim de despertar a poderosa deusa kundaliní que dorme fechando a porta de acesso ao Absoluto (sushumna nadi).

Além dos mudras com as mãos, no Gheranda são descritos 25 mudras, que envolvem todo o corpo, e segundo este texto a prática de todos esses mudras proporciona triunfo na prática do yoga. São:

Mahamudra (grande selo); Nabhomudra (selo etérico); Uddiyanabandha (contracção flutuante); Jalandarabandha (contração da garganta); Múlabandha (contração da raiz); Mahabandha (grande contração); Mahavedha (grande penetrador); Khecharimudra (selo da língua); Viparitakaranimudra (selo da ação inversa); Yonimudra (selo da vagina); Vajrolimudra (selo vajroli); Shakticalanamudra (selo agitador da energia); Tadagimudra (selo do tanque); Mandukimudra (selo da rã); Shambavimudra (selo de Shiva); Panchadháraná (cinco dháraná ou concentrações); Párthivídháraná (muladhara chakra); Ámbhasídháraná (svádhistána chakra); Ágneyídháraná (manipura chakra); Váyavídháraná (anahata chakra); Ákáshídháraná (ajña chakra); Ashvinimudra (selo da égua/cavalo); Pashinimudra (selo do pássaro); Kakimudra (selo do corvo); Matanginimudra (selo do elefante); Bhujanginimudra (selo da serpente).

Maheshvara (Shiva), dirigindo-se à sua esposa (Parvati), recitou as vantagens dos mudras da seguinte forma: Oh Devi, todos estes mudras cujo conhecimento conduzem quem os prática à obtenção de siddhi, devem manter-se em grande segredo. Não serão para ensinar alegremente a qualquer um. Este conhecimento que não é fácil de obter nem sequer pelos próprios deuses, proporciona felicidade ao yogi! (Gheranda 3:4-5)

Hoje os mudras estão sendo utilizados para promover a saúde, bem-estar e equilíbrio. Sua prática regular desbloqueia os nadís, chakras e bloqueios energéticos que atingem não só o corpo físico, mas que se estendem para os demais corpos energéticos (mental, emocional, prânico, etc.).

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