quinta-feira, 29 de outubro de 2009

AYURVEDA

A Ciência da Vida, na Índia

“Ayur-veda” provém de duas palavras sânscritas, ayur que significa "vida" e veda, que significa "sabedoria" ou "ciência". Ayurveda significa a Ciência da Vida. Trata-se da tradicional e milenar medicina indiana, que agrega um extenso conjunto de métodos e práticas. Ela é conhecida como a mãe da medicina,

pois seus princípios e estudos foram a base para o posterior desenvolvimento da medicina trdicional chinesa

, árabe, romana e grega.

O Sistema Ayurveda propõe tratar o paciente, e não a doença, procurando restabelecer sua condição saudável como um todo, levando em conta corpo (prasanna), sentidos (indriya), mente (manah) e alma espiritual (atma) no contexto do ambiente em que vive e sob as influências do país ou região (desha), do tempo ou estações do ano (kala), das condições climáticas tais como umidade (ardrata), chuvas (varsha), ventos (vayuh) e demais oscilações ambientais.

E toda essa metodologia inclui Vijñana (ciência), Vidya (conhecimento e treinamento), Tarka (lógica e crítica), Smriti (memória), Tatparata (adaptabilidade) e Kriya (prática).

Sendo tão antigo quanto os Vedas, o Ayurveda remonta a períodos anteriores à história conhecida do homem. Ayurveda é ciência e arte ao mesmo tempo, original em si mesmo e baseado na experiência prática e em cuidadosos métodos de investigação perseverantemente realizados por grandes Sábios do passado remoto, portadores de profunda intuição, a qualidade espiritual desenvolvida por longas práticas de meditação e todos os demais métodos do Yoga. A Ayurveda, como ciência integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito antes de podermos percebê-la.

 A Teoria Tridosha do Ayurveda e Os Cinco Elementos

Na medicina indiana o corpo é visto como o microcosmo que reflete as mesmas propriedades do Universo (macrocosmo). O Universo (jagat) é constituído de cinco elementos fundamentais (pañcha-mahabhuta) que são Terra (prithivi), Água (jalam), Fogo (agni), Ar (vayur) e Éter ou Espaço (akasha). Sendo assim, o corpo reflete a mesma combinação de elementos em sua estrutura. No momento da concepção a nossa constituição, o dosha, é definido e ele estará presente em maior quantidade no nosso organismo e irá determinar nossa constituição por toda a vida. Ao nascermos, tal proporção está em equilíbrio natural (prakriti), mas com o tempo e a vida desregrada surge o desequilíbrio em um ou mais desses doshas (vikruti), contribuindo para o surgimento e desenvolvimento de doenças.

Mas o corpo apresenta também uma natureza própria (deha-prakriti) que é uma combinação desses elementos de acordo com o planeta (loka) ou ambiente (desha) em que se desenvolve e somados ainda à buddhi (discernimento), ahankara (ego) e manas (mente). 

A combinação desses elementos fundamentais, água, terra, ar, fogo e éter, dá origem aos doshas ou “humores” corpóreos que são divididos em número de três (tridoshas), a saber, Kapha, Pitta e Vata.

Kapha = Terra + Água / Pitta = Água + Fogo / Vata = Ar + Éter

O equilíbrio entre esses humores ou doshas, em proporção e ação, é a base para o bom funcionamento do corpo. Quando os doshas estão em estado irregular, ocorre doença ou "roga." "Arogya" (sem "roga") significa "com boa saúde." O equilíbrio dos três doshas promove perfeita saúde. As doenças, portanto, envolvem desordens em um ou mais desses doshas. Tais desordens ocorrem em conseqüência de dietas, práticas ou hábitos de vida inadequados. Os doshas combinam-se na formação dos diferentes tecidos (dhatus) do corpo, tais como músculos, sangue, ossos, cartilagens, pêlos, secreções, pele, hormônios etc. Desse modo, cada pessoa tem uma proporção desses doshas de forma individual, o que lhe confere características psicossomáticas particulares. Por isso, o médico ayurvedico procura, através da inspeção criteriosa, avaliar as características particulares (proporções dos tridoshas) de cada pessoa, levando em consideração tipo físico, psicológico, local e época do nascimento, práticas profissionais, hábitos de vida e muitos outros fatores, prescrevendo, assim, o tratamento e dieta adequados para esse paciente. A visão ayurveda não é de tratar a doença (roga), mas o doente (rogi) como um todo, cuidando dos sintomas, cura e seu fortalecimento, o que abrange os aspectos corpóreos e mentais. Para a Medicina Ayurveda, saúde significa estar bem de corpo e mente. Não existem, portanto, tratamentos ou medicamentos aplicados em massa, iguais para todos, mas cada tratamento é planejado de forma individual, específica. Tendo em vista que as doenças surgem de uma desordem nas proporções e ações dos doshas, o tratamento consiste em elevar ou diminuir o nível ou proporção do(s) dosha(s), levando-os ao equilíbrio nas suas proporções originais. 

O médico ayurvedico (bhishaka) pode ele mesmo prescrever e aplicar os tratamentos, como pode também contar com o auxílio de um terapeuta/enfermeiro (chikitsaka) especialmente treinado em um determinado tipo de tratamento. Assim, há o terapeuta especializado em técnicas de relaxamento, ou na confecção de medicamentos a partir dos minerais, aquele especializado em fitoterápicos (ervas e plantas), outros ainda conhecedores dos métodos de Hatha-yoga, tais como, pranayanas (técnicas respiratórias), asanas e mudras (posições e exercícios) e, ainda, aqueles treinados no controle dietético, os quais são experts na arte de combinar diferentes alimentos e condimentos para regular os doshas, curar e fortalecer o paciente. Há, ainda, o médico/professor ou mestre da ciência, chamado vaidya. O terapeuta, todavia, sempre trabalhará sob a supervisão do mestre e/ou do médico.

Diagnosticando seu biótipo energético (dosha) segundo a Medicina Ayurvedica

Para se descobrir qual é a dosha do paciente, os médicos primeiramente entregam um questionário para ser preenchido. Como muitos pacientes possuem características de todos os biotipos, os médicos completam essa informação a partir de um exame feito no pulso do paciente. Ele coloca os dedos anular, médio e indicador na altura da munheca do paciente e consegue então determinar se a pessoa é Vata, Pitta ou Kapha - ou então se ela tem dois ou três dos tipos juntos. Para cada tipo de constituição, existe um determinado tipo de tratamento para uma doença específica. Mas existem doenças mais comuns para cada tipo de biotipo. Na visão ayurvédica, um excesso ou deficiência destas características próprias do biotipo indica um desequilíbrio no Dosha (humor biológico) correspondente, o que gera alterações patológicas no corpo físico.

VATA

Vata possui o ar como elemento predominante e é como o vento ou o ar em movimento; é seco, leve, sutil e agitado. Vata em seu estado natural, ou seja, em equilíbrio, mantém a energia da vontade, governa a inspiração do ar atmosférico, a exalação, o movimento, as descargas dos impulsos, o equilíbrio dos tecidos e a acuidade dos sentidos. Vata localiza-se no cólon (que é a sua sede) e onde ele tende a se acumular quando em desequilíbrio, nos quadris, coxas, ouvidos, ossos e no sentido tato. Vata em desequilíbrio leva ao emagrecimento, debilidade, aversão ao frio, tremores, constipação, alterações no sistema nervoso, tonteira, colite, formação de gases, reumatismo, causa secura, desidratação, escurecimento, descoloração, distensão abdominal, enfraquecimento, insônia, redução da acuidade sensorial (visão, audição, tato, paladar e olfato), incoerência ao se expressar e fadiga, e possuem mais tendência a ter problemas na pele que são geralmente secas.

PITTA

Pitta tem como elemento principal o fogo e se comporta como ele. Caracteriza-se por ser quente, oleoso e leve. Pitta, em condições normais, é responsável pela digestão, pelo calor, pela percepção visual, pela fome, sede, pelas condições da pele, pela suavidade externa do corpo, pela inteligência, determinação e coragem. Pitta situa-se no intestino delgado (sua sede), no estômago, no suor, no tecido gorduroso, sangue, plasma, linfa e no sentido da visão.Quando uma pessoa de constituição Pitta está em desarmonia, isso produz olhos e pele amarelados, fome em excesso, sede aumentada, febre, sensação de calor corporal, inflamações, infecções, azia e queimações, causa coloração amarelada da urina, das fezes e dificuldade para dormir. As pessoas Pitta tendem a sofrer de úlceras, gastrites e têm problemas de digestão.

KAPHA

Kapha é caracterizado pelo elemento água e se comporta como a água: úmido, pesado e frio. Kapha é responsável pela firmeza e pela estabilidade, pela manutenção dos fluídos corporais, pela lubrificação das articulações em geral, pelas emoções positivas como paz, amor e compaixão. Localiza-se no peito (sua sede), na garganta, cabeça, pâncreas, costelas, estômago, nariz e língua. Em desequilíbrio gera fraqueza do sistema digestivo reduzindo a capacidade de digestão, gera palidez, calafrios, tosse com formação de mucosidades nos pulmões, dificuldade de respirar, obesidade, baixa atividade das funções orgânicas e preguiça, sensação de cansaço, de frio, de peso, um desejo excessivo de dormir.

Mitologia

Não podemos falar sobre a medicina indiana sem citar aspectos da tradição cultural hindu, principalmente sobre a mitologia. De acordo com as escrituras védicas, Dhanvantari, o deus hindu da medicina, que é um avatar de Vishnu, materializou-se pela primeira vez nesta era ao emergir do Oceano de Leite, trazendo em suas mãos Amrita, o elixir da imortalidade, para fortalecer os deuses em sua batalha contra os demônios. Indra, o senhor dos céus, observando a miséria dos seres humanos e sua aflição com as doenças na Terra, pediu a Dhanvantari que ensinasse o Ayurveda à raça humana. Com esse propósito, Dhanvantari nasceu como filho do rei de Kasi. Como rei de Kasi, organizou os Samhitas (escrituras) do Ayurveda para o benefício da humanidade, revelando o conhecimento sobre os cuidados com o corpo como forma de amenizar o sofrimento da humanidade devido às doenças.

Flávia Bianchini: Instrutora do espaço de yoga Shri Yoga Devi. http://www.yogadevi.org/

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